sexta-feira, 10 de maio de 2013

texto produção de açucar (CRV) PIP

 PRODUÇÃO DE AÇÚCAR - PIP
Reúna-se com seus colegas para ler o texto que segue, escrito no início do século XVIII. Seu autor falava da produção do açúcar, mas tratava, de modo figurado, da maldade humana e, mais diretamente, do sofrimento imposto aos africanos desde sua captura até o degredo para o Brasil. Em seguida responda as questões e se prepare para um debate com a turma.
Texto 1:
        Do que padece o açúcar desde o seu nascimento na cana até sair do Brasil.
        É reparo singular dos que contemplam as coisas naturais, ver que as que são de maior proveito ao gênero humano, não se reduzem à sua perfeição sem passarem primeiro por notáveis apertos: e isto bem na Europa no pão, no azeite e no vinho, frutos da terra tão necessários, enterrados, arrastados, pisados, espremido, e moídos antes de chagarem a ser perfeitamente o que são.
        E nós muito mais o vemos na fábrica do açúcar, o qual desde o primeiro instante de se plantar até chegar às mesas, e passar entre os dentes a sepultar-se no estômago dos que o comem, leva uma vida cheia de tais e tantos martírios, que os que inventaram os tiranos, lhes não ganham vantagem.
Porque se a terra, obedecendo ao Império do Criados, deu liberalmente cara se regalar com a sua doçura aos paladares dos homens; estes, desejosos de multiplicar em si deleitos e gostos, inventaram contra a mesma cana, com seus artifícios, mais de cem instrumentos, para lhe multiplicarem tormentos e penas.
      Por isso fazem primeiramente em pedaços as que plantam, e as sepultam assim cortadas na terra. Mas elas tornando logo quase milagrosamente a ressuscitar (...).
      Já abocanhadas de vários animais, já derrubadas (...) já descabeçadas e cortadas com foices. Saem do canavial amarradas: ou nos carros de boi, ou nos barcos ã vista das outras, filhas da mesma terra, como os réus que vão algemados para a cadeia, ou para o lugar do suplício padecendo (...) e dando a muitos terror.
      Chegadas à moenda, com que força e que desprezo se lançam seus corpos esmagados, e despedaçados ao mar? Com que impiedade se queimam, sem compaixão no bagaço?
Arrasta-se pelas bicas quanto humor saiu de suas veias, e quanta substância tinham nos ossos: (...) vai a ferver nas caldeiras (...). Quantas vezes o vão virando e agitando com escumadeiras medonhas? Quantas, depois de passado por assadores (...) experimentando ele de tacha em tacha o fogo mais veemente; e às vezes desafogueado algum tanto, só para que chegue a padecer mais tormentos?
Crescem as bateduras (...); multiplica-se a agitação com as espátulas: deixa-se esfriar como morto nas formas: leva-se para a casa de purgar sem terem contra ele um mínimo indício de crime; e nela chora ferido a sua tão malograda doçura. Aqui dão-lhe com barro na cara (...). Correm suas lágrimas por tantos rios, quantas são as bicas que as recebem: e tantas são elas, que bastam para encher tanques profundos. Oh! Crueldade nunca vista! As mesma lágrimas do inocente se põem a ferver e a bater de novo nas tachas: as mesmas lágrimas [no] fogo do alambique. E quanto mais chora sua sorte, mais tornam as escravas a dar-lhe na cara com barro.
Sai desta sorte do purgatório, e do cárcere, tão alvo, como inocente; e sobre um baixo balcão se entrega a outras mulheres, para que lhes cortem os pés com facões: e estas não contentes de lhos cortarem (...) folgam de lhes fazer os mesmos pés em migalhas.
Daí passa ao último teatro de seus tormentos (...) e por isso partido com quebradores, cortado em facões (...) arrastado com rodos (...) farta a crueldade de tantos algozes (...). Examina-se por remate na balança do maior rigor o que pesa, depois de feito em migalhas (...). Cuidava eu, que depois de reduzido ele a este estado tão lastimoso, o deixassem: mas vejo, que sepultado em uma caixa, não se fartam de o pisarem com pilões, nem de lhe darem na cara (...).
Pegam-no finalmente, e marcam com fogo seu sepulcro: e assim pregado (...) torna por muitas vezes a ser vendido e revendido (...) se se livra das prisões do porto, não se livra das tormentas do mar, nem do degredo, com imposições de tributos, tão seguro de ser vendido entre cristãos , como arriscado a ser levado para Argel entre mouros.
E ainda assim sempre doce e vencedor de amarguras, vai a dar gosto ao paladar dos seus inimigos nos banquetes, saúde nas mezinhas aos enfermos e grandes lucros ao senhor de engenho e aos mercadores que o compraram e o levaram degredado; e muitos maiores emolumentos à fazenda real nas alfândegas.

ANTONIL, André João (João Antonio Andreoni). Cultura e opulência do Brasil: por suas drogas e minas. Rio de Janeiro: IBGE/ Conselho Nacional de Geografia, 1963 (1711). p. 56-57

Responda:
1)O texto foi escrito em uma linguagem metafórica. O que é uma metáfora? Procure o significado em um dicionário. Encontre três metáforas no texto, anote-as e explore seu significado.
2)Por que o autor do texto chama a produção açucareira de “fábrica do açúcar”?
3)O autor comparava as etapas de produção do açúcar com o processo de escravização. Quais os elementos utilizados no texto para essa comparação?
4)O autor do texto fala de escravas. Somente mulheres foram escravas no Brasil? Por que o autor só menciona as mulheres?

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